A Ciência Por Trás da Escolha Ideal para Cada Situação
Pontos de Destaque
- Decisão baseada em ciência: a escolha entre gelo (crioterapia) ou calor (termoterapia) não deve ser apenas preferência pessoal, mas considerar o tipo de lesão, fase inflamatória e objetivos terapêuticos.
- Crioterapia (frio): indicada nas primeiras 48–72h de lesões agudas, entorses, luxações e exacerbações inflamatórias. Atua com vasoconstrição, redução do metabolismo celular, menor condução nervosa e alívio imediato da dor.
- Evidências científicas: estudos mostram benefícios da crioterapia não só na dor aguda, mas também na artrite reumatoide, com redução de dor e marcadores de atividade inflamatória.
- Termoterapia (calor): indicada em condições crônicas e não inflamatórias, como rigidez matinal da artrite reumatoide e osteoartrite. Promove vasodilatação, melhora circulação, relaxa músculos e aumenta elasticidade dos tecidos.
- Protocolos de uso:
- Frio: 15–20 min, intervalos de 2h, temperatura ideal 10–15°C.
- Calor: 20–30 min, temperatura ideal 40–45°C.
- Sempre usar barreira protetora para evitar queimaduras.
- Contraindicações: frio (crioglobulinemia, Raynaud grave, déficit vascular); calor (inflamação aguda, déficit sensorial severo).
- Terapia de contraste: alternar calor e frio pode potencializar benefícios em condições subagudas, estimulando o fluxo sanguíneo e acelerando recuperação.
- Limitações da pesquisa: falta de padronização nos protocolos, populações pequenas e resultados mistos reforçam a necessidade de mais estudos clínicos robustos.
- Regra geral prática: use gelo para dor aguda e inflamatória; use calor para rigidez e dor crônica.
A dor articular afeta milhões de pessoas globalmente e representa um dos principais motivos de busca por tratamentos não farmacológicos.
Entre as terapias mais acessíveis e amplamente utilizadas estão a crioterapia (aplicação de frio) e a termoterapia (aplicação de calor).
A escolha entre gelo ou calor para o alívio da dor articular tem sido objeto de extensas pesquisas científicas, revelando que cada modalidade possui mecanismos de ação distintos e indicações específicas.
A questão fundamental que permeia tanto a prática clínica quanto o manejo domiciliar da dor articular é: quando utilizar gelo e calor?
Esta decisão não pode ser baseada apenas em preferência pessoal, mas deve considerar fatores como o tipo de lesão, fase da inflamação, condição articular subjacente e objetivos terapêuticos específicos.
Estudos recentes demonstram que a aplicação inadequada dessas modalidades pode não apenas reduzir a eficácia do tratamento, mas também prolongar o processo de recuperação.
- A Ciência Por Trás da Escolha Ideal para Cada Situação
- Pontos de Destaque
- Mecanismos Fisiológicos da Crioterapia na Dor Articular
- Termoterapia: Como o Calor Atua no Alívio da Dor Articular
- Indicações Específicas: Quando Escolher Gelo ou Calor
- Protocolos de Aplicação de gelo ou calor e Considerações Práticas
- Terapia de Contraste: Combinando Gelo e Calor
- Evidências Científicas Atuais e Limitações da Pesquisa
- Perguntas Frequentes (FAQ)
- Referências Bibliográficas
Mecanismos Fisiológicos da Crioterapia na Dor Articular

A crioterapia, popularmente conhecida como terapia do frio, atua através de múltiplos mecanismos fisiológicos que justificam sua eficácia no manejo da dor articular aguda.
Segundo pesquisas recentes, a crioterapia tem sido utilizada para reduzir dor aguda por muitos anos devido, em parte, à sua facilidade de uso, acessibilidade e simplicidade.
O principal mecanismo envolve a redução da temperatura tecidual, que resulta na diminuição do metabolismo celular e da demanda por oxigênio.
Quando aplicado sobre articulações dolorosas, o frio promove vasoconstrição local, reduzindo o fluxo sanguíneo para a área afetada.
A aplicação de gelo faz com que os vasos sanguíneos se contraiam, diminuindo o fluxo sanguíneo para a área.
Esta resposta vascular é particularmente benéfica em casos de inflamação aguda, onde o edema e o inchaço contribuem significativamente para a dor e limitação funcional.
Outro mecanismo crucial é a modulação da condução nervosa. A redução da temperatura interfere na velocidade de condução dos impulsos nervosos, especialmente nas fibras responsáveis pela transmissão da dor.
Este fenômeno, conhecido como “teoria do portão” modificada pela temperatura, explica por que a aplicação de frio pode proporcionar alívio imediato da dor em muitos casos de lesões articulares agudas.
Estudos sistemáticos recentes demonstraram que, ao reunir 6 estudos envolvendo 257 pacientes com artrite reumatoide (AR), houve uma redução significativa na escala visual analógica de dor, após a aplicação de crioterapia.
Estes achados sugerem que a crioterapia não apenas oferece alívio sintomático, mas pode também influenciar marcadores objetivos da atividade da doença.
Termoterapia: Como o Calor Atua no Alívio da Dor Articular

A termoterapia representa uma das modalidades terapêuticas mais antigas conhecidas pela humanidade, com evidências históricas de seu uso terapêutico datando de milhares de anos.
Pesquisas têm mostrado que tratamentos com calor podem afrouxar articulações rígidas e aliviar músculos doloridos.
Os mecanismos pelos quais o calor exerce seus efeitos terapêuticos são fundamentalmente diferentes daqueles da crioterapia.
O calor promove vasodilatação local, aumentando significativamente o fluxo sanguíneo para os tecidos articulares.
Este aumento na perfusão tecidual facilita o transporte de nutrientes e oxigênio para as células, ao mesmo tempo que acelera a remoção de metabólitos e mediadores inflamatórios.
O calor pode funcionar melhorando a circulação e relaxando os músculos, enquanto o frio pode anestesiar a dor, diminuir o inchaço, contrair os vasos sanguíneos e bloquear impulsos nervosos para a articulação.
A aplicação de calor também influencia as propriedades viscoelásticas dos tecidos conectivos.
O aquecimento reduz a viscosidade do fluido sinovial e aumenta a elasticidade de ligamentos, cápsulas articulares e tendões.
Esta alteração biomecânica é particularmente relevante em condições caracterizadas por rigidez articular, como a artrite reumatoide matinal ou a osteoartrite em fases não inflamatórias.
Evidências científicas recentes sugerem que a termoterapia pode ser usada como terapia paliativa ou como terapia adjuvante combinada com exercícios para pacientes com AR.
Banhos de cera parecem especialmente úteis no tratamento de mãos artríticas.
Esta especificidade de aplicação demonstra a importância de considerar não apenas a modalidade terapêutica, mas também a forma de aplicação e a região anatômica envolvida.
Indicações Específicas: Quando Escolher Gelo ou Calor
A escolha entre crioterapia e termoterapia deve ser fundamentada em evidências científicas e características específicas da condição articular.
O gelo é usado para dor aguda, inflamação (inchaço) e lesões recentes.
Quando você se machuca, o dano imediatamente se torna inflamado, o que parece inchaço, dor e vermelhidão.
Esta diretriz básica forma o alicerce das indicações terapêuticas para a crioterapia.
Para lesões articulares agudas, particularmente aquelas ocorridas nas primeiras 48-72 horas, a crioterapia é universalmente recomendada.
Isso inclui entorses, luxações, traumas diretos e exacerbações agudas de condições artríticas.
A única coisa que você nunca deve fazer é usar calor nos primeiros dias após uma lesão aguda. Aplicar calor pode aumentar a inflamação e piorar sua condição.
Por outro lado, a termoterapia encontra suas principais indicações em condições articulares crônicas caracterizadas por rigidez e dor sem sinais inflamatórios agudos.
Como regra geral, use gelo para lesões ou dor aguda, juntamente com inflamação e inchaço.
Use calor para dor muscular ou rigidez. Esta orientação reflete décadas de experiência clínica e pesquisa científica.
Condições específicas como artrite reumatoide apresentam desafios únicos na escolha terapêutica.
Durante períodos de exacerbação com sinais inflamatórios evidentes (calor, rubor, inchaço), a crioterapia é preferível.
Contudo, durante períodos de remissão ou quando a rigidez matinal é o sintoma predominante, a termoterapia pode oferecer maior benefício funcional.
Curiosidade
Você sabia que o Gelo e o Calor podem ser utilizados em uma crise aguda de lombociatalgia ( Ciática), clique aqui e saiba mais sobre os problemas do nervo ciático.
Protocolos de Aplicação de gelo ou calor e Considerações Práticas
A eficácia terapêutica tanto da crioterapia quanto da termoterapia depende significativamente dos protocolos de aplicação utilizados.
Dispositivos de crioterapia contínua demonstraram o melhor resultado em pacientes ortopédicos após procedimentos de artroscopia do joelho.
Comparado com todos os outros procedimentos e localizações corporais, em termos de mostrar uma redução significativa na dor, inchaço e consumo de analgésicos.
Para a crioterapia, o protocolo padrão recomenda aplicações de 15-20 minutos, com intervalos mínimos de 2 horas entre sessões.
A temperatura ideal deve ser mantida entre 10-15°C na interface pele-aplicador.
É crucial utilizar uma barreira têxtil (toalha fina) entre o gelo e a pele para prevenir queimaduras por frio, especialmente em pacientes com sensibilidade alterada ou comprometimento circulatório.
A termoterapia apresenta protocolos igualmente específicos, com temperatura ideal entre 40-45°C e duração de aplicação de 20-30 minutos.
Modalidades como banhos de parafina, compressas quentes úmidas, ou dispositivos de calor seco cada uma apresenta características específicas de penetração tecidual e manutenção da temperatura.
Contraindicações absolutas, para crioterapia incluem: crioglobulinemia, fenômeno de Raynaud grave, e áreas de comprometimento vascular.
Para termoterapia: inflamação aguda, comprometimento sensorial severo, e condições que predispõem a queimaduras.
O monitoramento contínuo da resposta do paciente é essencial para ajustes protocolares individualizados.
Terapia de Contraste: Combinando Gelo e Calor
Uma abordagem terapêutica que tem ganhado crescente atenção científica é a terapia de contraste, que combina aplicações alternadas de frio e calor.
A terapia de contraste combina os benefícios dos tratamentos frios e quentes, alternando entre eles para impulsionar o fluxo sanguíneo e aliviar a dor.
Esta modalidade aproveita os mecanismos complementares de ambas as terapias para otimizar os resultados terapêuticos.
O protocolo típico de terapia de contraste envolve aplicação de calor por 3-4 minutos, seguida de aplicação de frio por 1-2 minutos, repetindo este ciclo 3-5 vezes e terminando sempre com frio.
Este padrão cria um efeito de “bomba vascular”, onde a alternância entre vasodilatação e vasoconstrição promove um fluxo sanguíneo pulsátil que pode ser superior ao obtido com qualquer modalidade isoladamente.
Evidências preliminares sugerem que a terapia de contraste pode ser particularmente benéfica em condições subagudas, onde nem a inflamação aguda nem a rigidez crônica predominam exclusivamente.
Ambas são boas opções, com a terapia de calor aliviando articulações rígidas e a terapia fria reduzindo a dor.
Na verdade, algumas pessoas encontram o melhor alívio quando alternam entre ambas.
A implementação da terapia de contraste requer consideração cuidadosa das condições individuais do paciente.
Não é recomendada em casos de inflamação aguda severa, comprometimento vascular significativo, ou durante as primeiras 48 horas após lesão articular aguda.
A supervisão profissional inicial é aconselhável para estabelecer protocolos individualizados e monitorar respostas terapêuticas.
Evidências Científicas Atuais e Limitações da Pesquisa
A literatura científica atual sobre crioterapia e termoterapia em dor articular apresenta um panorama complexo, com evidências robustas em algumas áreas e lacunas significativas em outras.
Crioterapia de curto prazo não reduziu substancialmente a dor e teve efeitos incertos na função física e qualidade de vida em pessoas com osteoartrite do joelho, conforme demonstrado em um estudo randomizado controlado recente.
Uma revisão sistemática recente sobre crioterapia em osteoartrite do joelho revelou heterogeneidade significativa entre os estudos, com variações consideráveis em protocolos de aplicação, duração do tratamento e medidas de desfecho.
Com esta redução, é possível reduzir o metabolismo tecidual, fluxo sanguíneo e condução nervosa, gerando efeitos terapêuticos como redução de estímulos dolorosos, edema e processos inflamatórios.
Para termoterapia, as evidências são igualmente mixtas.
Os resultados desta revisão sistemática de termoterapia para AR encontraram que não houve efeito significativo de aplicações de compressas quentes e frias, crioterapia e banhos farádicos em medidas objetivas da atividade da doença incluindo inchaço articular, dor, medicação.
Estes achados destacam a necessidade de protocolos mais padronizados e estudos com maior rigor metodológico.
As limitações atuais da pesquisa incluem: heterogeneidade de protocolos entre estudos, variabilidade nas medidas de desfecho, populações estudadas pequenas e heterogêneas, e seguimento limitado a curto prazo.
Técnicas e protocolos devem ser mais precisamente definidos em ensaios clínicos randomizados com metodologia mais forte.
Futuras pesquisas devem focar em padronização de protocolos, estudos de longo prazo, e identificação de biomarcadores preditivos de resposta terapêutica.
Você já experimentou alternar entre aplicações de gelo e calor para sua dor articular?
Qual modalidade você considera mais eficaz para suas condições específicas?
Compartilhe sua experiência nos comentários – sua vivência pode ajudar outros leitores a compreenderem melhor essas terapias na prática.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Quanto tempo devo aplicar gelo ou calor na articulação dolorosa?
Para crioterapia, aplique por 15-20 minutos com intervalos de pelo menos 2 horas. Para termoterapia, 20-30 minutos são recomendados. Nunca exceda 30 minutos consecutivos para evitar lesões térmicas.
2. Posso usar gelo imediatamente após uma lesão articular?
Sim, a crioterapia é altamente recomendada nas primeiras 48-72 horas após lesões agudas. O frio ajuda a controlar inflamação, edema e dor durante esta fase crítica de cicatrização.
3. Quando o calor é contraindicado para dor articular?
O calor nunca deve ser aplicado em lesões agudas (primeiras 72 horas), áreas com inflamação ativa (calor, vermelhidão, inchaço), ou em pessoas com comprometimento sensorial que não conseguem detectar calor excessivo.
4. A terapia de contraste (alternando frio e calor) é segura?
A terapia de contraste é geralmente segura quando aplicada corretamente, mas deve ser evitada em inflamação aguda severa, problemas vasculares graves ou nas primeiras 48 horas pós-lesão. Consulte um profissional para orientação inicial.
5. Existe diferença na eficácia entre diferentes tipos de aplicação de frio?
Estudos mostram que dispositivos de crioterapia contínua podem ser mais eficazes que aplicações intermitentes, especialmente após procedimentos ortopédicos. Contudo, bolsas de gelo tradicionais permanecem eficazes para uso domiciliar quando aplicadas corretamente.
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