Treino Resistido: Novos achados 2024

Um homem fazendo Treino Resistido com um haltere

Destaques

Uma mulher fazendo Treino resistido com equipamento de musculação

O treino resistido (TR) é amplamente recomendado por organizações internacionais de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o American College of Sports Medicine (ACSM) e a National Strength and Conditioning Association (NSCA). Seja para aumentar massa muscular, melhorar força, combater a sarcopenia ou recuperar função física, o TR tem um papel central na saúde pública e na reabilitação.

Mas uma nova pergunta tem ganhado força entre profissionais e praticantes: quais variáveis do treino resistido realmente importam para gerar resultados?
Carregar mais peso? Aumentar a frequência? Fazer repetições mais lentas? Treinar até a falha? Treinar de manhã?

Uma umbrella review publicada em 2024 analisou 44 revisões sistemáticas e meta-análises para responder exatamente isso. Esse tipo de estudo integra o que há de mais avançado e consolidado em evidência científica.

Com base nele, este artigo traduz tudo para uma linguagem clara, objetiva e prática — ideal para alunos, pacientes, fisioterapeutas e praticantes de musculação.


Por que entender as variáveis do treino é tão importante?

Durante anos, o treinamento resistido foi cercado por regras rígidas e crenças populares que nem sempre se confirmam na prática científica. Muitos alunos, e até profissionais, ainda acreditam que:

  • só cresce quem treina pesado;
  • treinar até a falha é obrigatório;
  • exercícios precisam ser feitos em ordem específica;
  • repetir um número ideal de repetições garante resultados;
  • tempo sob tensão é determinante;
  • treinar pela manhã é melhor.

A boa notícia é que a ciência moderna ajuda a simplificar esse cenário.

O estudo que analisamos desmonta várias dessas crenças e coloca luz sobre o que realmente importa para hipertrofia, força e função física.


O que a ciência mostra: o TR funciona — e muito

A revisão conclui, com consistência:

Treinar aumenta:

  • massa muscular
  • força
  • função física

comparado a não treinar. Isso vale para:

  • jovens,
  • adultos,
  • idosos,
  • iniciantes e treinados.

Mesmo em idosos, o TR melhora velocidade de marcha, autonomia para subir escadas, sentar e levantar, e reduz risco de queda.

Ou seja: se existe um exercício que todo ser humano deveria fazer, é o treino resistido.


As variáveis que realmente importam nos resultados

Após analisar dezenas de revisões, alguns fatores se destacam como determinantes — enquanto outros têm impacto mínimo ou nenhum.

A seguir, as variáveis com maior nível de evidência.


1. Volume — a variável mais importante para hipertrofia e força

O volume total é o principal responsável por gerar adaptações musculares.

Volume é geralmente definido como:

  • número de séries semanais
  • por grupo muscular
  • realizadas com esforço suficiente

O que a revisão mostrou:

  • Mais séries = mais resultados.
  • Acima de 10 séries por semana por grupo muscular há um benefício claro.
  • O ganho tende a ser progressivo até certo ponto, com possíveis platôs em volumes extremamente altos.

Por que o volume é tão eficiente?

Porque representa a quantidade total de estímulo mecânico aplicado ao músculo ao longo do tempo — o principal gatilho para hipertrofia.

Aplicação prática:

  • iniciantes: 6–10 séries por semana por músculo
  • intermediários: 10–15 séries
  • avançados: 15–20 séries (ou mais, dependendo de tolerância)

Na prática clínica, aumentar volume gradualmente é mais seguro do que aumentar carga.


2. Carga — essencial para força, indiferente para hipertrofia

Um dos achados mais impactantes desta revisão é a confirmação de que:

Para ganhar massa muscular, a carga não precisa ser alta.

Treinar com 30% do 1RM ou 80% do 1RM produz hipertrofia semelhante desde que o esforço seja alto, chegando perto da falha.

Essa informação é extremamente poderosa, porque desmonta o mito de que carga leve não serve.

Para força, sim, a carga importa.

Quanto mais pesada a carga, maior o desenvolvimento neural e a transferência para testes como 1RM.

Resumo prático:

  • hipertrofia: leve, moderado ou pesado — tudo funciona
  • força: priorizar cargas moderadas a altas

Para a fisioterapia, isso é especialmente útil, pois permite treinar idosos, pós-operatórios e indivíduos com dor com cargas menores sem perder resultados em hipertrofia.


3. Frequência — influencia força, mas não hipertrofia

Grupo de pessoas fazendo Treino Resistido

A frequência semanal por si só não altera a hipertrofia se o volume total semanal for igual.

Por exemplo:

  • 12 séries feitas em 1 dia
    ou
  • 6 séries feitas em 2 dias => produzem o mesmo ganho de massa.

Mas para força, treinar mais vezes por semana ajuda.

Maior frequência melhora:

  • técnica
  • coordenação
  • eficiência neural
  • exposição ao padrão motor

Por isso atletas de força geralmente treinam o mesmo padrão várias vezes por semana.

Aplicação prática:

  • hipertrofia: escolha a frequência que se adapta à rotina
  • força: 2–4 treinos/semana do mesmo padrão aumentam resultados

4. Tipo de ação muscular — excêntrico é levemente superior

Contrações excêntricas (fase de descida) geram mais microtensões e estímulo mecânico.

A revisão mostrou:

  • excêntrico > concêntrico para hipertrofia
  • diferenças pequenas, mas consistentes
  • treinos tradicionais (subir + descer) já entregam ótimos resultados

Aplicação clínica:

  • controle excêntrico é fundamental em reabilitação
  • reduz risco de queda
  • melhora propriocepção
  • estimula músculos de forma mais eficiente

Variáveis com impacto pequeno ou irrelevante

A revisão encontrou evidências de que muitas variáveis tradicionalmente consideradas importantes não influenciam significativamente os resultados.

Entre elas:

1. Treinar até a falha

Não é obrigatório.
Treinar perto da falha (1–3 repetições antes) é suficiente.

2. Ordem dos exercícios

Só importa se seu objetivo é força em um exercício específico.

3. Tempo sob tensão / velocidade

Repetições lentas, médias ou rápidas geram resultados semelhantes, desde que não sejam absurdamente lentas (acima de 10s por repetição).

4. Intervalos de descanso

Curto ou longo, pouco interfere se o volume final for igual.

5. Periodização (linear vs ondulatória)

Ambas funcionam igualmente bem para hipertrofia.
Para força, evidência é inconsistente.

6. Horário do treino

Treinar de manhã ou à noite não muda ganhos de força ou massa.


Impacto do Treinamento Resistido na Função Física

Apesar de menos estudos, a revisão confirmou:

TR melhora função física:

  • subir escadas
  • caminhar
  • sentar/levantar
  • velocidade de marcha
  • autonomia
  • capacidade de carregar objetos

Especialmente em idosos.

Isso reforça o papel do TR:

  • na fisioterapia preventiva
  • na reabilitação pós-operatória
  • na melhora da independência
  • na prevenção da sarcopenia

Treinar força não é apenas “ficar forte” — é preservar a capacidade de viver com autonomia.


Aplicações Clínicas — O que usar na prática

Idoso fazendo Treino Resistido.

Para hipertrofia

  • priorize volume
  • cargas leves ou pesadas funcionam
  • ir próximo da falha
  • exercícios básicos + isolados

Para força

  • cargas moderadas/altas
  • maior frequência
  • mais ênfase em multiarticulares

Para idosos

  • fases excêntricas controladas
  • cargas leves a moderadas
  • progressão técnica e gradual

Para reabilitação

  • volume inteligente
  • estímulo com baixa carga
  • progredir com segurança
  • evitar fadiga extrema no início

Conclusão

O treinamento resistido é uma das estratégias de saúde mais poderosas que temos à disposição. Ele melhora força, massa muscular e função física em todas as faixas etárias. Entre as variáveis analisadas, o volume se destaca como a mais importante para hipertrofia e força, seguido pela carga (para força) e pela frequência (também para força).

A maioria dos detalhes técnicos tradicionalmente defendidos — como tempo sob tensão, ordem dos exercícios, treinar até a falha ou horário do treino — têm impacto pequeno ou nulo nos resultados.

Isso simplifica a vida de alunos, pacientes e profissionais: o básico bem feito, com consistência e progressão, continua sendo a chave de tudo.

Para fisioterapia, o TR se consolida como uma intervenção segura, eficiente e baseada nas melhores evidências científicas disponíveis.

FAQs

1. Treinar com carga leve gera hipertrofia?
Sim. Cargas leves ou pesadas produzem hipertrofia semelhante quando o esforço é próximo da fadiga.

2. Quantas séries semanais são ideais para crescer?
Pelo menos 10 séries por grupo muscular por semana trazem melhores resultados.

3. Preciso treinar até a falha para hipertrofia?
Não. Ir próximo da falha já estimula o crescimento muscular sem aumentar riscos.

4. É melhor treinar 1, 2 ou 3 vezes por semana?
Para hipertrofia, qualquer frequência funciona. Para força, mais frequências tendem a ser melhores.

5. A ordem dos exercícios influencia os resultados?
Para hipertrofia, não. Para força específica, sim — faça primeiro o que deseja melhorar mais.

6. Treinar de manhã ou à noite faz diferença?
Não. Adaptar o treino ao seu horário aumenta aderência e consistência.

7. Contrações excêntricas são melhores?
Para hipertrofia, sim — mas treinos tradicionais já funcionam muito bem.

8. Intervalos de descanso influenciam os resultados?
Não significativamente, desde que o volume total seja mantido.

9. Idosos podem fazer treino resistido?
Sim. TR melhora força, mobilidade e função física em idosos.

10. Qual a variável mais importante no treino?
O volume total: número de séries semanais por grupo muscular.

Referência do artigo

Mcleod JC, Currier BS, Lowisz CV, Phillips SM. The influence of resistance exercise training prescription variables on skeletal muscle mass, strength, and physical function in healthy adults: An umbrella review. Journal of Sport and Health Science. 2024;13:47–60.

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