✅ Destaques
- O volume semanal é a variável mais importante para hipertrofia e força.
- Carga pesada é superior apenas para força; para hipertrofia, qualquer carga funciona.
- Frequência impacta força, mas não hipertrofia (quando volume é igual).
- Contrações excêntricas tendem a gerar mais hipertrofia.
- Variáveis como falha, tempo sob tensão e ordem dos exercícios pouco influenciam resultados.
- Treinamento resistido melhora função física, especialmente em idosos.
- TR é seguro e eficaz em diferentes faixas etárias.
- A maioria das “regras rígidas” da musculação não tem suporte científico.
- A consistência e o volume total importam mais do que detalhes técnicos.
- Ideal para fisioterapia, prevenção de perdas funcionais e saúde geral.
Índice

O treino resistido (TR) é amplamente recomendado por organizações internacionais de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o American College of Sports Medicine (ACSM) e a National Strength and Conditioning Association (NSCA). Seja para aumentar massa muscular, melhorar força, combater a sarcopenia ou recuperar função física, o TR tem um papel central na saúde pública e na reabilitação.
Mas uma nova pergunta tem ganhado força entre profissionais e praticantes: quais variáveis do treino resistido realmente importam para gerar resultados?
Carregar mais peso? Aumentar a frequência? Fazer repetições mais lentas? Treinar até a falha? Treinar de manhã?
Uma umbrella review publicada em 2024 analisou 44 revisões sistemáticas e meta-análises para responder exatamente isso. Esse tipo de estudo integra o que há de mais avançado e consolidado em evidência científica.
Com base nele, este artigo traduz tudo para uma linguagem clara, objetiva e prática — ideal para alunos, pacientes, fisioterapeutas e praticantes de musculação.
Por que entender as variáveis do treino é tão importante?
Durante anos, o treinamento resistido foi cercado por regras rígidas e crenças populares que nem sempre se confirmam na prática científica. Muitos alunos, e até profissionais, ainda acreditam que:
- só cresce quem treina pesado;
- treinar até a falha é obrigatório;
- exercícios precisam ser feitos em ordem específica;
- repetir um número ideal de repetições garante resultados;
- tempo sob tensão é determinante;
- treinar pela manhã é melhor.
A boa notícia é que a ciência moderna ajuda a simplificar esse cenário.
O estudo que analisamos desmonta várias dessas crenças e coloca luz sobre o que realmente importa para hipertrofia, força e função física.
O que a ciência mostra: o TR funciona — e muito
A revisão conclui, com consistência:
Treinar aumenta:
- massa muscular
- força
- função física
comparado a não treinar. Isso vale para:
- jovens,
- adultos,
- idosos,
- iniciantes e treinados.
Mesmo em idosos, o TR melhora velocidade de marcha, autonomia para subir escadas, sentar e levantar, e reduz risco de queda.
Ou seja: se existe um exercício que todo ser humano deveria fazer, é o treino resistido.
As variáveis que realmente importam nos resultados
Após analisar dezenas de revisões, alguns fatores se destacam como determinantes — enquanto outros têm impacto mínimo ou nenhum.
A seguir, as variáveis com maior nível de evidência.
1. Volume — a variável mais importante para hipertrofia e força
O volume total é o principal responsável por gerar adaptações musculares.
Volume é geralmente definido como:
- número de séries semanais
- por grupo muscular
- realizadas com esforço suficiente
O que a revisão mostrou:
- Mais séries = mais resultados.
- Acima de 10 séries por semana por grupo muscular há um benefício claro.
- O ganho tende a ser progressivo até certo ponto, com possíveis platôs em volumes extremamente altos.
Por que o volume é tão eficiente?
Porque representa a quantidade total de estímulo mecânico aplicado ao músculo ao longo do tempo — o principal gatilho para hipertrofia.
Aplicação prática:
- iniciantes: 6–10 séries por semana por músculo
- intermediários: 10–15 séries
- avançados: 15–20 séries (ou mais, dependendo de tolerância)
Na prática clínica, aumentar volume gradualmente é mais seguro do que aumentar carga.
2. Carga — essencial para força, indiferente para hipertrofia
Um dos achados mais impactantes desta revisão é a confirmação de que:
Para ganhar massa muscular, a carga não precisa ser alta.
Treinar com 30% do 1RM ou 80% do 1RM produz hipertrofia semelhante desde que o esforço seja alto, chegando perto da falha.
Essa informação é extremamente poderosa, porque desmonta o mito de que carga leve não serve.
Para força, sim, a carga importa.
Quanto mais pesada a carga, maior o desenvolvimento neural e a transferência para testes como 1RM.
Resumo prático:
- hipertrofia: leve, moderado ou pesado — tudo funciona
- força: priorizar cargas moderadas a altas
Para a fisioterapia, isso é especialmente útil, pois permite treinar idosos, pós-operatórios e indivíduos com dor com cargas menores sem perder resultados em hipertrofia.
3. Frequência — influencia força, mas não hipertrofia

A frequência semanal por si só não altera a hipertrofia se o volume total semanal for igual.
Por exemplo:
- 12 séries feitas em 1 dia
ou - 6 séries feitas em 2 dias => produzem o mesmo ganho de massa.
Mas para força, treinar mais vezes por semana ajuda.
Maior frequência melhora:
- técnica
- coordenação
- eficiência neural
- exposição ao padrão motor
Por isso atletas de força geralmente treinam o mesmo padrão várias vezes por semana.
Aplicação prática:
- hipertrofia: escolha a frequência que se adapta à rotina
- força: 2–4 treinos/semana do mesmo padrão aumentam resultados
4. Tipo de ação muscular — excêntrico é levemente superior
Contrações excêntricas (fase de descida) geram mais microtensões e estímulo mecânico.
A revisão mostrou:
- excêntrico > concêntrico para hipertrofia
- diferenças pequenas, mas consistentes
- treinos tradicionais (subir + descer) já entregam ótimos resultados
Aplicação clínica:
- controle excêntrico é fundamental em reabilitação
- reduz risco de queda
- melhora propriocepção
- estimula músculos de forma mais eficiente
Variáveis com impacto pequeno ou irrelevante
A revisão encontrou evidências de que muitas variáveis tradicionalmente consideradas importantes não influenciam significativamente os resultados.
Entre elas:
1. Treinar até a falha
Não é obrigatório.
Treinar perto da falha (1–3 repetições antes) é suficiente.
2. Ordem dos exercícios
Só importa se seu objetivo é força em um exercício específico.
3. Tempo sob tensão / velocidade
Repetições lentas, médias ou rápidas geram resultados semelhantes, desde que não sejam absurdamente lentas (acima de 10s por repetição).
4. Intervalos de descanso
Curto ou longo, pouco interfere se o volume final for igual.
5. Periodização (linear vs ondulatória)
Ambas funcionam igualmente bem para hipertrofia.
Para força, evidência é inconsistente.
6. Horário do treino
Treinar de manhã ou à noite não muda ganhos de força ou massa.
Impacto do Treinamento Resistido na Função Física
Apesar de menos estudos, a revisão confirmou:
TR melhora função física:
- subir escadas
- caminhar
- sentar/levantar
- velocidade de marcha
- autonomia
- capacidade de carregar objetos
Especialmente em idosos.
Isso reforça o papel do TR:
- na fisioterapia preventiva
- na reabilitação pós-operatória
- na melhora da independência
- na prevenção da sarcopenia
Treinar força não é apenas “ficar forte” — é preservar a capacidade de viver com autonomia.
Aplicações Clínicas — O que usar na prática

Para hipertrofia
- priorize volume
- cargas leves ou pesadas funcionam
- ir próximo da falha
- exercícios básicos + isolados
Para força
- cargas moderadas/altas
- maior frequência
- mais ênfase em multiarticulares
Para idosos
- fases excêntricas controladas
- cargas leves a moderadas
- progressão técnica e gradual
Para reabilitação
- volume inteligente
- estímulo com baixa carga
- progredir com segurança
- evitar fadiga extrema no início
Conclusão
O treinamento resistido é uma das estratégias de saúde mais poderosas que temos à disposição. Ele melhora força, massa muscular e função física em todas as faixas etárias. Entre as variáveis analisadas, o volume se destaca como a mais importante para hipertrofia e força, seguido pela carga (para força) e pela frequência (também para força).
A maioria dos detalhes técnicos tradicionalmente defendidos — como tempo sob tensão, ordem dos exercícios, treinar até a falha ou horário do treino — têm impacto pequeno ou nulo nos resultados.
Isso simplifica a vida de alunos, pacientes e profissionais: o básico bem feito, com consistência e progressão, continua sendo a chave de tudo.
Para fisioterapia, o TR se consolida como uma intervenção segura, eficiente e baseada nas melhores evidências científicas disponíveis.
✅ FAQs
1. Treinar com carga leve gera hipertrofia?
Sim. Cargas leves ou pesadas produzem hipertrofia semelhante quando o esforço é próximo da fadiga.
2. Quantas séries semanais são ideais para crescer?
Pelo menos 10 séries por grupo muscular por semana trazem melhores resultados.
3. Preciso treinar até a falha para hipertrofia?
Não. Ir próximo da falha já estimula o crescimento muscular sem aumentar riscos.
4. É melhor treinar 1, 2 ou 3 vezes por semana?
Para hipertrofia, qualquer frequência funciona. Para força, mais frequências tendem a ser melhores.
5. A ordem dos exercícios influencia os resultados?
Para hipertrofia, não. Para força específica, sim — faça primeiro o que deseja melhorar mais.
6. Treinar de manhã ou à noite faz diferença?
Não. Adaptar o treino ao seu horário aumenta aderência e consistência.
7. Contrações excêntricas são melhores?
Para hipertrofia, sim — mas treinos tradicionais já funcionam muito bem.
8. Intervalos de descanso influenciam os resultados?
Não significativamente, desde que o volume total seja mantido.
9. Idosos podem fazer treino resistido?
Sim. TR melhora força, mobilidade e função física em idosos.
10. Qual a variável mais importante no treino?
O volume total: número de séries semanais por grupo muscular.
✅ Referência do artigo
Mcleod JC, Currier BS, Lowisz CV, Phillips SM. The influence of resistance exercise training prescription variables on skeletal muscle mass, strength, and physical function in healthy adults: An umbrella review. Journal of Sport and Health Science. 2024;13:47–60.

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