A escoliose é uma condição ortopédica caracterizada por um desvio da coluna acompanhado de rotação das vértebras. Entre os tipos de escoliose, a mais comum é a escoliose idiopática do adolescente (EIA), que aparece principalmente durante a fase de crescimento rápido na puberdade.
Uma dúvida recorrente de pacientes e familiares é: “O que acontece se a escoliose não é tratada?”. Essa questão foi investigada em profundidade no histórico Estudo de Iowa, conduzido por Stuart L. Weinstein e colaboradores, que acompanhou pacientes com escoliose idiopática não tratada por mais de 50 anos.
- O que é escoliose idiopática e por que deve ser acompanhada?
- O Estudo de Iowa: 50 anos de acompanhamento da escoliose não tratada.
- O que os números revelam sobre a progressão da escoliose idiopática não tratada?
- Dor, função e qualidade de vida
- O que aprendemos com o Estudo de Iowa
- Tratamento da escoliose idiopática hoje: o que é recomendado
- Conclusão
- FAQ – Perguntas Frequentes sobre Escoliose
- Referência
O que é escoliose idiopática e por que deve ser acompanhada?
A escoliose idiopática é uma curvatura anormal da coluna vertebral, geralmente diagnosticada na adolescência sem causa aparente. A evolução da curva pode variar: em alguns casos ela permanece estável, mas em outros a curvatura pode piorar, trazendo dor, alterações posturais e, nos casos mais graves, comprometimento da função pulmonar.
O diagnóstico da escoliose é feito por meio de exame físico e radiografias. O médico especialista em coluna pode solicitar exames adicionais para avaliar o risco de progressão da escoliose e indicar se o uso de colete ortopédico ou até cirurgia de escoliose é recomendada.

O Estudo de Iowa: 50 anos de acompanhamento da escoliose não tratada.
O Estudo de Iowa começou nos anos 1950–1960 e reuniu adolescentes diagnosticados com escoliose idiopática do adolescente que não fizeram fisioterapia, não utilizaram coletes ortopédicos e não passaram por cirurgia de escoliose.
Eles foram acompanhados até, em média, 51 anos após o diagnóstico, quando a idade média dos pacientes era de 66 anos.
O que os números revelam sobre a progressão da escoliose idiopática não tratada?
Os resultados finais do acompanhamento foram impressionantes:
- Curvas torácicas: média de 85° (variando de 23° a 156°).
- Curvas lombares: média de 49° (15° a 90°).
- Curvas toracolombares: média de 90° (50° a 155°).
- Curvas duplas: torácicas em média 79° e lombares 76°.
Outros achados importantes:
- 68% das curvas maiores continuaram a progredir após a maturidade esquelética.
- Curvas menores que 30° na maturidade: em geral não progrediram.
- Curvas entre 50° e 75°: especialmente as torácicas, progrediram de forma significativa.
- Curvas acima de 80°: estavam associadas a sintomas respiratórios (falta de ar).
Esses dados deixam claro que a escoliose não é estática: em muitos pacientes, especialmente nos casos moderados e graves, a curvatura pode piorar ao longo da vida.
Dor, função e qualidade de vida
Além das medidas radiográficas, o estudo avaliou aspectos práticos da vida dos pacientes:
- Dor nas costas: mais comum do que em pessoas sem escoliose. Muitos relataram dor lombar crônica, de intensidade leve a moderada.
- Função: apesar da dor, a maioria manteve independência, trabalhou, casou-se e teve filhos.
- Estética: a deformidade é uma das maiores queixas, associada a insatisfação com a imagem corporal.
- Pulmão: pacientes com curvas torácicas muito grandes (>80°) apresentaram mais sintomas respiratórios.
- Sobrevida: não houve aumento de mortalidade. A escoliose não comprometeu a expectativa de vida em comparação aos controles.
O que aprendemos com o Estudo de Iowa
As lições principais incluem:
- Curvas pequenas podem se manter estáveis, sem progressão significativa.
- Curvas maiores geralmente progridem, especialmente após a maturidade.
- Dor lombar e impacto estético são comuns, mas não impedem vida ativa.
- Função e independência são preservadas, mesmo em curvas grandes.
- A longevidade não é afetada, embora sintomas respiratórios possam aparecer em curvas torácicas extremas.
Tratamento da escoliose idiopática hoje: o que é recomendado

Vale lembrar que os pacientes do Estudo de Iowa não tiveram acesso aos recursos modernos. Atualmente, contamos com diversas opções de tratamento da escoliose:
- Diagnóstico precoce, cada vez mais comum em triagens escolares.
- Fisioterapia e exercícios específicos para escoliose, que ajudam no controle muscular e postural.
- Coletes ortopédicos, comprovadamente eficazes em evitar a progressão da curvatura em adolescentes.
- Cirurgia de escoliose, indicada em casos mais graves, quando a curva é progressiva e pode comprometer órgãos internos.
Conclusão
O Estudo de Iowa mostrou que a escoliose pode ser progressiva e causar dor, deformidade e impacto na autoestima, mas também que muitas pessoas com a condição viveram de forma plena, com trabalho, família e independência.
Hoje, com os avanços no diagnóstico da escoliose e nos tratamentos (como fisioterapia, colete e cirurgia), os pacientes têm muito mais recursos para evitar a progressão da escoliose e preservar sua qualidade de vida.
Se a escoliose for detectada, procure um especialista em escoliose. Tratar a escoliose precocemente é recomendado e pode evitar complicações no futuro.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Escoliose
1. Toda escoliose piora com o tempo?
Não. O Estudo de Iowa mostrou que curvas menores que 30° geralmente permanecem estáveis, mas 68% das curvas maiores progrediram após a maturidade esquelética.
2. Qual a expectativa de vida de pessoas com escoliose não tratada?
A escoliose não comprometeu a expectativa de vida: os pacientes viveram tanto quanto a população geral.
3. A escoliose causa problemas respiratórios?
Apenas em curvas torácicas muito grandes (maiores de 80°) houve aumento de sintomas respiratórios, como falta de ar.
4. A escoliose sempre causa dor nas costas?
A maioria dos pacientes relatou dor lombar leve a moderada, mas ainda conseguiram levar vida ativa.
5. Pacientes com escoliose não tratada puderam casar e ter filhos?
Sim. O estudo mostrou que casamento e gravidez não foram prejudicados pela escoliose.
6. A escoliose pode comprometer a qualidade de vida do paciente?
Pode impactar principalmente a estética e causar dor crônica, mas não impediu os pacientes de trabalhar e manter independência.
7. Quando a cirurgia de escoliose é recomendada?
Em casos graves, com curvas progressivas que ultrapassam 50°–60°, ou quando há risco de impacto funcional e pulmonar.
8. O uso de colete pode evitar a progressão da escoliose?
Sim. Coletes ortopédicos modernos são eficazes para evitar que a curvatura chegue a níveis cirúrgicos.
9. A fisioterapia pode tratar escoliose?
A fisioterapia especializada em escoliose é recomendada pois ajuda a impedir a progressão da curva
10. Qual a principal lição do Estudo de Iowa?
Que a escoliose não é estática: curvas pequenas podem se manter estáveis, mas curvas grandes tendem a progredir. O acompanhamento precoce é essencial.
Referência

Escrito por
Douglas Santos
Fisioterapeuta
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