Colete para Escoliose, Funciona?

Tempo de leitura: 14 minutos

Colete para Escoliose

Em 2013, um grupo de pesquisadores conduziu um estudo com 242 adolescentes que apresentavam escoliose moderada. Todos tinham curvas entre 25 e 50 graus de ângulo de Cobb e maturação esquelética incompleta. Os pesquisadores dividiram os participantes em dois grupos: um grupo utilizou o colete para escoliose por 18 horas diárias, enquanto o outro foi apenas observado, sem intervenção.

Os pesquisadores interromperam o estudo precocemente devido à eficácia comprovada do colete. Os resultados mostraram que 72% dos adolescentes que usaram o colete melhoraram significativamente, em comparação com 48% dos que apenas monitoraram.

A diferença entre os grupos foi tão expressiva que os pesquisadores concluíram que não seria ético continuar o estudo, visto que o uso do colete demonstrava resultados muito superiores à simples observação.

Outro ponto importante observado foi a relação direta entre o número de horas de uso diário do colete e os benefícios obtidos. Ou seja, quanto mais horas o paciente utiliza o colete, maior é a chance de sucesso no tratamento.

Portanto, para escolioses moderadas, o colete funciona de forma eficaz. Ele é uma ferramenta valiosa para corrigir curvas e prevenir a progressão da escoliose.

O que é o colete para escoliose?

O colete para escoliose é um dispositivo ortopédico personalizado, fabricado com materiais termoplásticos, utilizado para controlar a curvatura da coluna vertebral em pessoas com escoliose. Essa condição caracteriza-se por uma curvatura anormal da coluna, geralmente em formato de “S” ou “C”, e ocorre com maior frequência durante a adolescência, especialmente na fase de crescimento acelerado.

A principal função do colete é exercer pressão específica em áreas estratégicas da coluna, ajudando a minimizar ou estabilizar a curvatura e evitar sua progressão.

Quando indicam o colete ?

O tratamento com o colete é uma abordagem não cirúrgica, indicada principalmente para crianças e adolescentes em fase de crescimento. Em muitos casos, o uso correto pode prevenir o agravamento da escoliose e reduzir a necessidade de intervenções cirúrgicas no futuro. O ortesista faz o dispositivo sob medida, adaptado à anatomia e à localização da curva de cada paciente, o que melhora o conforto e a eficácia do tratamento.

Como funciona o tratamento?

A eficácia do colete depende da disciplina do paciente em usá-lo pelo tempo diário recomendado, conforme orientação médica. Uma equipe multidisciplinar composta por um ortesista, um médico e um fisioterapeuta realiza o acompanhamento. Esses profissionais monitoram a evolução do tratamento e ajustam o dispositivo conforme necessário.

Benefícios do uso do colete

O uso adequado do colete contribui para uma postura mais alinhada, ajuda a evitar complicações futuras e em muitos casos evita a cirurgia na coluna. A dedicação ao tratamento desempenha um papel essencial para alcançar os melhores resultados e prevenir o avanço da curvatura da coluna.

Tipos de colete para escoliose

Existem diversos tipos de coletes para escoliose, cada um projetado para atender diferentes necessidades e corrigir variações específicas nas curvas da coluna. Conhecer as características de cada modelo ajuda a determinar o mais adequado para cada caso.

Milwaukee

O colete Milwaukee é um dos primeiros modelos desenvolvidos para o tratamento da escoliose. Os médicos indicam este colete principalmente para curvas localizadas na parte superior da coluna vertebral. Este dispositivo possui uma estrutura que vai do pescoço até a pelve, oferecendo um suporte extenso e eficaz. Contudo, sua aparência menos discreta e conforto limitado podem dificultar a adesão ao uso.

Boston

Os Ortesistas utilizam o colete Boston amplamente para corrigir curvas localizadas na região lombar e torácica. Ele cobre a parte inferior do tronco, garantindo maior conforto e aceitação estética, especialmente entre adolescentes. O ortesista fabrica o colete de Boston em plástico, tornando-o discreto e permitindo que o paciente o use sob a roupa, o que o torna uma opção popular.

Charleston

Originalmente projetado para ser utilizado apenas durante o sono, o colete Charleston evoluiu e hoje também pode ser usado de forma integral. Os profissionais indicam esse modelo para curvas específicas e destacam como vantagem a flexibilidade de uso, que se adapta às necessidades do paciente.

3D Rigo Cheneau

O colete 3D Rigo Cheneau é uma opção moderna e altamente personalizável. Fabricado por poucos profissionais no Brasil. Ele se ajusta perfeitamente à anatomia da coluna do paciente, promovendo correção em múltiplos planos. Além disso, o design ergonômico garante maior conforto durante o uso. Este modelo é ideal para casos mais específicos e oferece um ajuste dinâmico e eficaz.

Para quem o médico indica o colete para escoliose??

O colete para escoliose é uma solução eficaz para estabilizar ou corrigir a curvatura da coluna vertebral, especialmente durante as fases de crescimento. No entanto, sua indicação depende de fatores específicos, como idade, grau da curva e estágio de maturidade esquelética do paciente.

Crianças e adolescentes

Colete para Escoliose

Médicos recomendam o colete principalmente para crianças e adolescentes com curvas significativas na coluna e que ainda estão em fase de crescimento. Este grupo se beneficia mais do tratamento, pois o dispositivo pode impedir a progressão da curva enquanto o corpo ainda está em desenvolvimento.

A literatura indica para curvas entre 25 e 45 graus de ângulo de Cobb. Em casos de curvas menores, o acompanhamento regular pode ser suficiente, enquanto curvas mais graves podem exigir intervenção cirúrgica. Além disso, o uso correto do colete contribui para melhorar a postura e prevenir complicações futuras.

Pacientes adultos

Embora seja menos comum, o colete também pode ser indicado para adultos, mas com objetivos diferentes. Profissionais de saúde utilizam o colete em pacientes mais velhos principalmente para fornecer suporte adicional e aliviar dores relacionadas à escoliose. A correção estrutural significativa, no entanto, é menos esperada nesta fase da vida.

Adultos podem usar o colete em situações específicas, como durante atividades que exigem esforço extra da coluna. Ele também pode ser indicado para pacientes com contraindicações à cirurgia, funcionando como uma alternativa paliativa. Nesses casos, o uso é geralmente limitado a um máximo de 6 horas por dia, para garantir conforto e evitar efeitos colaterais indesejados.

Importância do acompanhamento

Independentemente da idade, a indicação do colete deve ser feita por uma equipe especializada, composta por ortopedistas, fisioterapeutas e ortesistas. O acompanhamento regular é essencial para ajustar o tratamento conforme necessário e garantir a eficácia do dispositivo.

Como saber se o colete está funcionando?

Utilizar um colete bem ajustado e sob medida é essencial para o sucesso do tratamento da escoliose. Entretanto, usar um dispositivo inadequado pode gerar desconforto, custos desnecessários e, ainda pior, a ineficácia no controle da curva. Para evitar essas situações, é fundamental que o colete seja avaliado por uma equipe multidisciplinar, composta por médico, ortesista e fisioterapeuta.

Embora médicos e fisioterapeutas não fabriquem órteses, eles têm o conhecimento necessário para verificar se o aparelho está desempenhando sua função corretamente. Essa avaliação em conjunto oferece segurança ao paciente, garantindo que o colete escolhido esteja realmente funcionando.

Acompanhamento com exames de imagem

Além da análise clínica, exames de imagem, como radiografias, são ferramentas indispensáveis para monitorar a evolução do tratamento. Os profissionais as solicitam periodicamente, tanto com o paciente usando o colete quanto sem ele. Essa comparação ajuda a determinar se o dispositivo está estabilizando ou corrigindo a curvatura da coluna.

Mudanças na postura

Outro indicador importante é a melhoria no alinhamento postural do paciente. Embora essas mudanças possam ser sutis no início do tratamento, são sinais encorajadores de que o colete está desempenhando seu papel. Consultas regulares e o acompanhamento médico são fundamentais para identificar essas alterações e realizar ajustes no dispositivo, caso necessário.

Tempo ideal de uso do colete

O tempo recomendado de uso do colete varia conforme a gravidade da escoliose, a idade do paciente e as orientações médicas. Estudos sugerem que ele seja utilizado entre 18 e 23 horas por dia, sendo retirado apenas para higiene pessoal e, em alguns casos, para a prática de atividades físicas supervisionadas.

Esse regime exige disciplina, mas é crucial para o sucesso do tratamento. Estudos demonstram que quanto maior o número de horas de uso diário, maior a eficácia do colete na estabilização e correção da curva.

Uso noturno: uma abordagem promissora

Um estudo recente investigou o uso do colete apenas durante o período noturno e obteve resultados promissores. Entre os 45 pacientes avaliados, 76% apresentaram sucesso no tratamento. Embora a amostra seja pequena, essa abordagem pode ser uma alternativa para pacientes que enfrentam dificuldades com o uso prolongado do colete.

Seguir rigorosamente as orientações médicas e comparecer às consultas regulares são passos indispensáveis para o sucesso do tratamento. Com comprometimento e acompanhamento adequado, o colete pode trazer benefícios significativos para a saúde e a qualidade de vida do paciente.

Qual é o melhor colete para escoliose?

O melhor colete para escoliose é aquele que atende às necessidades específicas do paciente, levando em consideração a tridimensionalidade da escoliose e as direções corretas de correção. É fundamental que o colete não interfira na respiração do paciente. Por exemplo, não adianta corrigir a curvatura da coluna se o colete está prejudicando a funcionalidade do paciente.

A escolha do colete deve considerar vários fatores, como a rigidez ou flexibilidade da curvatura, a idade do paciente, para garantir os melhores resultados possíveis, ao mesmo tempo em que minimiza o impacto na rotina do paciente. Para isso, é importante contar com a orientação de uma equipe multidisciplinar, incluindo ortopedista, fisioterapeuta e ortesista, para determinar o colete mais adequado.

Cuidados ao usar o colete para escoliose

O uso do colete para escoliose exige cuidados especiais para evitar desconforto e garantir sua eficácia. Manter o colete sempre limpo e seco é essencial para prevenir o acúmulo de suor, que pode causar irritações na pele. Uma boa prática é usar uma camiseta de algodão por baixo do colete, o que ajuda a proteger a pele e reduzir o atrito.

Durante o uso do colete, trabalhe o corpo fugindo dos pontos de pressão do colete. Não use o colete como apoio. Um trabalho ativo do corpo dentro do colete é fundamental.

O ajuste correto do colete também é crucial. O colete deve estar firme, mas sem causar dor ou dificuldade para respirar. Com o tempo, à medida que o corpo do paciente muda, o ortopedista pode precisar revisar o ajuste do colete para garantir que ele continue eficaz.

Procure colocar o colete sempre na posição deitada. Isso facilita a colocação e o ajuste de pressão pelas presilhas.

Além disso, é fundamental que o paciente não retire o colete sem orientação médica, pois o uso regular e contínuo é necessário para o sucesso do tratamento. Em casos em que o paciente cresceu mais de 5 centímetros durante o tratamento e ainda tem previsão de continuar crescendo, é extremamente importante revisar ou até mesmo substituir o colete para garantir a eficácia do tratamento.

Colete para Escoliose e Atividade Física

A prática de atividade física é altamente benéfica para pacientes que utilizam o colete para escoliose. Exercícios como natação, Pilates e outras atividades ajudam a fortalecer a musculatura ao redor da coluna, promovendo estabilidade e complementando o efeito do colete. Contudo, é essencial que essas atividades sejam supervisionadas por um profissional de saúde para evitar movimentos que possam prejudicar o alinhamento da coluna.

A pratica esportiva deve ser incentivada. Não há evidências de que o esporte, mesmo os assimétricos como tênis ou handebol, piorem a escoliose.

É importante que o colete seja retirado durante os exercícios físicos, permitindo maior liberdade de movimento e garantindo que o paciente consiga realizar os movimentos de forma adequada. A prática regular de atividades físicas contribui para uma reabilitação mais eficiente, ajudando o corpo a se tornar mais equilibrado, forte e resistente. Além disso, a combinação do colete com a atividade física pode resultar em uma melhoria significativa na qualidade de vida do paciente.

Quanto custa um colete?

O preço de um colete para escoliose pode variar bastante. O custo depende de fatores como a marca, o tipo de colete, e principalmente a experiência do ortesista. Além disso, a tecnologia utilizada na confecção do colete também influencia o preço. Atualmente, há modelos sendo feitos até mesmo com impressoras 3D, o que pode influenciar o custo.

Em média, o valor dos coletes varia entre R$ 3.000 e R$ 7.000, mas o preço pode ser ainda mais elevado dependendo de outros fatores, como a cidade em que o colete é confeccionado. Cidades com custo de vida mais alto tendem a apresentar preços mais elevados.

É importante correlacionar o preço do colete com a experiência do ortesista e a distância de confecção. Embora haja pacientes que utilizem uma única órtese durante todo o tratamento, existem aqueles que precisam trocar de colete mais de uma vez. Em quaisquer situação, a experiência do ortesista deve ser priorizada, pois a qualidade do trabalho é essencial para garantir que o colete atenda às necessidades do paciente.

Colete Boston vs. 3D Rigo Cheneau

Um estudo comparativo entre os coletes Boston e 3D Rigo Cheneau demonstrou que ambos são eficazes para minimizar e impedir a progressão da escoliose em adolescentes. No entanto, o colete 3D Rigo Cheneau se mostrou mais eficaz, apresentando melhores resultados no controle da curvatura.

Quando Retirar o Colete?

A retirada do colete para escoliose deve ser uma decisão tomada pela equipe de tratamento, considerando o estágio de maturidade esquelética do paciente. Isso significa que a retirada ocorre quando o crescimento ósseo é concluído e a curva da coluna está estabilizada. Esse é um momento importante na jornada do paciente, indicando o fim da fase intensiva de correção com o colete.

Atualmente, existe um debate sobre a melhor abordagem para a retirada do colete: gradual ou imediata. Os profissionais recomendam a retirada gradual para permitir que o corpo se adapte aos novos padrões posturais sem perder os ganhos de correção. No entanto, um estudo recente comparou pacientes que realizaram a retirada gradual com aqueles que a fizeram imediatamente e não encontrou diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos. Isso sugere que, para muitos pacientes, a retirada imediata pode ser igualmente eficaz.

O estudo é relevante, pois ajuda os clínicos a tomar decisões mais informadas sobre o desmame da órtese, equilibrando as necessidades do paciente com a evidência científica disponível.

A retirada do colete marca uma conquista significativa para o paciente, refletindo seu comprometimento com o tratamento e simbolizando o início de uma nova fase em sua recuperação.

Por que Mesmo com o Colete Minha Escoliose Piorou?

A escoliose é uma condição complexa, e ainda há muitas perguntas sem resposta sobre porque algumas curvas não respondem aos tratamentos conservadores. Em muitos casos, seria fácil culpar a órtese ou questionar a qualidade do colete, ou até mesmo atribuir a culpa à fisioterapia. No entanto, a realidade é mais complexa.

Infelizmente, existem casos em que o paciente segue corretamente todas as orientações: detecta a condição precocemente, recebe o melhor tratamento fisioterapêutico, utiliza o colete de forma disciplinada e ainda assim a escoliose evolui. Esses casos são conhecidos como escolioses caóticas, nas quais o tratamento conservador não é eficaz, e a única opção para interromper a progressão é a cirurgia. Essa condição ocorre por razões que ainda não são totalmente compreendidas, mas que fazem parte da complexidade dessa doença.

Artigo escrito por:

Dr.Douglas Santos

Fisioterapeuta

Referencias bibliográficas:

Effects of Bracing in Adolescents with Idiopathic Scoliosis | New England Journal of Medicine

A comparison between Boston brace and European braces in the treatment of adolescent idiopathic scoliosis (AIS) patients: a systematic review based on the standardised Scoliosis Research Society (SRS) inclusion criteria for brace treatment

Nighttime Bracing or Exercise in Moderate-Grade Adolescent Idiopathic Scoliosis. A Randomized Clinical Trial

Immediate vs Gradual Brace Weaning Protocols in Adolescent Idiopathic Scoliosis.  Randomized Clinical Trial

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