Quando a coluna trava, o que fazer!
“Um céu de Brigadeiro”
Era uma bela terça-feira de 2018, uma daquelas manhãs que ficam gravadas na Coluna…opa, quis dizer na memória…
O sol brilhava forte, céu azul, típico de Foz do Iguaçu. Eu e minha esposa nos levantamos cedo, prontos para encarar a rotina.
E eu, que amo estudar e tratar a coluna vertebral, a princípio, tinha uma agenda pela frente.
Tomamos o café da manhã e estávamos prontos para iniciar a jornada.
Minha esposa saiu primeiro, com pressa, tinha seus compromissos, eu, saí logo em seguida.
Subi na motocicleta, pronto para partir, até que percebi que havia deixado meu celular no quarto.
Desci da moto com pressa, abri a porta, entrei na casa, enquanto comecei a subir as escadas para o quarto rapidamente, não queria me atrasar.
Entretanto,no meio do caminho, senti uma inevitável vontade de espirrar. Instintivamente, deixei o espirro sair, forte e repentino.
No momento em que espirrei, senti algo inesperado acontecer. Então tudo mudou…

“Turbulência”
Frações de segundos e dias parado
Uma dor tomou conta da minha coluna em frações de segundos. Minhas pernas fraquejaram, caí de joelhos no final da escada, sem forças para levantar-me.
Senti minha coluna travar, e a dor era muito grande. Jamais havia sentido algo assim.
Só para ilustrar, cada tentativa de movimento, parecia que alguém me apunhalava com uma faca eletrificada nas minhas costas…
Até mesmo respirar doía. Com extrema dificuldade, consegui engatinhar até a cama, e o simples ato de me deitar se tornou uma odisseia. Não conseguia acreditar que aquilo tudo estava acontecendo, por causa de um simples espirro.
E então me dei conta: eu estava completamente imobilizado, incapaz de encontrar qualquer posição de conforto.
Naquele dia, todos os meus planos se desfizeram. A agenda, já era. No entanto, o fisioterapeuta dedicado aos tratamentos da coluna, tornou-se paciente.
A dor que eu tanto ajudava a aliviar nos outros, agora era minha companheira indesejada.
Naquele dia, eu aprendi na pele o significado de ter a coluna travada, e por causa de um único espirro, uma manhã comum se transformou em dias bem desafiadores.
Um freio de emergência emperrado.
“A presa fácil…”
A coluna vertebral é uma verdadeira uma obra-prima da engenharia da natureza, uma estrutura que combina força, mobilidade, flexibilidade e proteção.
Ela nos mantém eretos, permite que nos movamos com agilidade e protege a medula espinhal, que é a principal via de comunicação entre o cérebro e o corpo.
Porém, mesmo uma estrutura tão robusta e bem projetada pode, em certos momentos, manifestar sinais de sobrecarga.
Por mais desagradável que seja, o travamento da coluna, também é um mecanismo de defesa do corpo.
Embora essa proteção seja bem dolorosa. Esse bloqueio súbito dos movimentos é uma forma de limitar danos maiores, evitando que a situação se agrave.
É como se a coluna, decidisse puxar algum tipo de freio de emergência.
Ao travar, ela impede que você continue a exercer pressão sobre uma área vulnerável, forçando uma pausa para que o corpo possa se recuperar.
O Inconveniente disso é que causa uma dor lancinante e com incapacidade associada, adiando qualquer programação.
Eu sabia que não deveria ficar restrito a cama. Procurei me movimentar devagar, mas estava complicado…
Enquanto tentava dar alguns passos para testar os movimentos … mais facada nas costas. Incrível, como doíam.
Girar o tronco ou tentar inclinar o corpo na pia para lavar o rosto, nem pensar. E para trocar de roupa? Que situação complicada.
Lembro até hoje de uma pergunta que me veio na cabeça: E se eu precisasse correr para sobreviver agora? Sem Chance! Eu havia me tornado uma “presa fácil”.
Espasmo Muscular.
Vilão ou Protetor da coluna?
Espasmo muscular é uma contração extremamente forte e dolorosa e ocorre de forma involuntária. Você não tem controle algum sobre ele.
Na coluna vertebral é o espasmo que desempenha um papel crucial nos episódios de dor e travamento de coluna, isto é para o bem e para mal.
O mal dos espasmos musculares, é que eles criam essa sensação de rigidez extrema, limitam severamente os movimentos e causam muita dor.
Os músculos da coluna se contraem de forma tão poderosa, que é como se você estivesse com o punho cerrado, com sua máxima força, e fosse incapaz de relaxar.
O corpo entra em um ciclo do tipo “dor – espasmo – mais dor – mais espasmo.
É limitante, muito doloroso e desesperador.
Mas os espasmos, também são um dos mecanismos que o corpo utiliza para proteger a coluna de movimentos que possam piorar uma lesão já existente.
Não sei dizer se esses espasmos são proporcionais a carga, velocidade ou trauma.
Já tive pacientes que relataram sentirem espasmos na coluna ao fazer um esforço grande, como carregar um objeto pesado, e continuarem completamente funcionais.
Outros pacientes, sem problemas sérios precedentes, sentiram espasmos e ficaram acamados por dois ou três dias por simplesmente pegarem uma chave que havia caída no solo.
Parece não haver uma regra quanto essa “programação” e cada pessoa responde de uma forma diferente.
Apesar disso, por incrível que pareça, esses espasmos tem um papel importante a cumprir na proteção da coluna.
Tempo e duração da dor na coluna.
“A Turbulência passa”.
Qualquer pessoa em meu lugar teria ligado para a ambulância. E com razão, pois com a dor e a incapacidade presente, assusta qualquer um, mesmo conhecendo o problema.
Quando se chega ao ponto de torcer para a bexiga não encher, para que você não tenha que levantar da cadeira ou cama e ir ao banheiro, é porque a coisa está feia.
A literatura científica, disponibiliza uma grande variedade de Guide Lines em diversos países que oferecem as melhores recomendações para clínicos e pacientes.
De acordo com os estudos, a dor lombar aguda é uma das maiores causas de incapacidade e busca dos pacientes por assistência médica no mundo.
Mas, apesar do problema causar incapacidade e muita dor, também tem prognóstico muito favorável. O que significa que os pacientes se recuperam muito bem desses travamentos.
Segundo os estudos, o tempo de duração da dor fica entre 4 a 6 semanas e 70% a 80% dos pacientes melhoram com ou sem intervenção clínica. (Isto é, sem fazer nada)
Assim sendo, apenas 5% desses pacientes manifestam a persistência dos sintomas.
Apesar de cada país seguir seu próprio Guide Line as recomendações mais alinhadas para os “cuidados de primeira linha” de dor lombar aguda são:
Orientar do paciente sobre o problema e informar sobre seu prognóstico favorável de melhora, aconselhamento para permanecer ativo na vida diária, e, se necessário, medicação para dor.
Isso significa que se você entrar num quadro doloroso como o meu, por mais assustador que pareça a situação, não se desespere!
E o que posso fazer?
Medidas para aliviar a dor e desconforto da coluna
Conforme escrito acima, se você estiver no Polo Norte, sem assistência médica alguma e a sua coluna travar, as chances de você melhorar sozinho varia de 70 a 80%, em no máximo 6 semanas.
Evite ficar acamado. Mantenha-se ativo dentro do possível, não entregue os pontos, mas também respeite o corpo, e se possível, tire um ou dois dias de folga.
Bolsa de água quente, ajuda a relaxar os músculos da coluna e promovem um enorme conforto. Utilize por 20 minutos, várias vezes ao dia.
A Fisioterapia com um profissional especializado em coluna ajuda a acelerar a recuperação e os estudos mostram isso.
Medicamentos anti-inflamatórios e relaxantes musculares sob prescrição médica ajudam a passar pela turbulência com mais conforto e os estudos também mostram isso.
Cinto! É agora que apanho. Nenhum estudo científico de qualidade recomenda o uso do cinto como medida terapêutica para dor lombar aguda. Porém…
Particularmente, penso que ele não é tão inútil assim. Mas essa é minha opinião!
Uma coisa é usar o cinto de forma estratégica durante no máximo um ou dois dias no pior momento dos sintomas.
O cinto promove uma maior estabilidade da coluna, pois, dá mais segurança ao paciente para se locomover, e ajuda a não levar tantas “facadas” nas costas.
Infelizmente algumas pessoas tornam-se dependentes do uso, e certamente sua ineficácia longo prazo, é certa, associada com piora do quadro clínico.
Use os quadris, não a coluna. Ainda que com dor, o lado positivo de estar com a coluna travada é que ela te obriga a usar as dobras do corpo.
Você aprenderá na prática a como fazer bom uso das dobras do tornozelo, joelho e quadril. Pois, as articulações ajudam a coluna se movimentar bem melhor.
O que não fazer
Acredite, você pode piorar a dor da coluna
1- Alongamento. Esse é um dos piores erros se não o pior. Tentar alongar os músculos das costas com a finalidade de aliviar a dor em uma lombalgia aguda é um convite ao sofrimento desnecessário.
Jamais tente alongar a coluna, levar as mãos na direção dos pés para alongar, nem pensar.
2- Forçar a coluna para destravar. É natural que você queira procurar um profissional renomado para te restaurar a função. No entanto, é preciso cuidado.
Há inúmeros profissionais, vídeos, mostrando o terapeuta fazendo o “Crack” na coluna vertebral e a pessoa saindo zerada, como se não tivesse mais dor.
Lembre-se que o travamento da coluna é um mecanismo de autoproteção e se resolve por conta própria na maioria dos casos.
Você não precisa esperar as 6 semanas para melhorar sozinho, mas antes de submeter seu corpo e sua saúde a outras “mãos”, seja paciente!
Se você não tem manifestações de formigamentos nas pernas, ou com as bandeiras vermelhas, descritas abaixo, aguarde pelo menos uns dois dias, antes de procurar qualquer assistência.
Esse tempo é suficiente para você já detectar a redução dos sintomas. Pois, se nesse tempo os sintomas estiverem diminuindo, é um bom sinal.
3- Repouso absoluto. Inúmeros estudos mostram que pacientes que se mantem ativos dentro de suas possibilidades se recuperam mais rápidos.
Então não há desculpa para ficar acamado. Como escrevi acima, não entregue os pontos!
4- Se entupir de medicamentos para tentar aliviar a dor. Além de não ajudar muito. Mesmo que com dor e seu estomago agradece se você não tomar. Faça uso de medicamentos apenas sob prescrição médica.
Bandeiras vermelhas
Sinais de alerta
Quando a coluna trava, é essencial ficar atento a alguns sinais de alerta, conhecidos principalmente como “bandeiras vermelhas”.
Esses sinais, podem indicar problemas mais graves na coluna vertebral e portanto incluem:
Dor intensa e persistente que não melhora com repouso ou medicamentos, além disso:
Perda de peso significativa sem explicação.
Fraqueza ou dormência nas pernas, o membro fica anestesiado.
Perda de controle da bexiga ou intestino.
Febre acompanhada de dor nas costas.
Esses sintomas podem sugerir condições sérias, bem como, infecção, tumor ou compressão nervosa grave, e exigem atenção médica imediata.
Ignorar essas bandeiras vermelhas pode ter consequências sérias para a sua saúde.
Condições graves não tratadas podem levar a complicações permanentes, principalmente, com danos nos nervos ou dificuldades de movimento.
Portanto, se você notar qualquer um desses sintomas, é fundamental procurar atendimento médico de emergência para uma avaliação mais completa.
Um Olhar Holístico para a Saúde da Coluna
Não é somente a estrutura da coluna
Compreender as causas dos travamentos da coluna é fundamental para prevenir e tratar esses episódios de forma eficaz.
Alterações estruturais, como protusão discal, hérnia de disco e estenose do canal vertebral, desempenham um papel significativo, mas é importante não as ver de forma isolada.
É preciso considerar não apenas as estruturas da coluna, mas também fatores como postura, nível de atividade física e saúde emocional.
Cada um desses aspectos contribui ou não, para o bem-estar da sua coluna e, portanto, deve ser levado em consideração.
A fisioterapia é uma ferramenta poderosa para lidar com esses problemas. Enquanto oferece grande alívio na dor e ensina ao paciente, estratégias de prevenção a longo prazo.
Com a orientação de um fisioterapeuta, você pode aprender exercícios específicos e técnicas de movimentação que ajudarão a fortalecer sua coluna e a mantê-la saudável.
Cuidar da sua coluna envolve um olhar abrangente, onde cada parte do seu estilo de vida conta.
É Possível Prevenir?
Não custa tentar
Ninguém está livre de um travamento na coluna vertebral, pois para travá-la, basta ter uma.
No entanto, há sim alguns fatores que contribuem para o enfraquecimento da coluna vertebral, como sobrepeso, sedentarismo, problemas emocionais, ocupacionais, posturais, estresse entre outros.
Se eu tivesse que dar duas dicas para tentar prevenir esse tipo problema eu arriscaria dizer: mantenha o CORE forte e bem desenvolvido.
O CORE é um grupo de músculos que ajudam a dar uma excelente estabilidade para a coluna vertebral.
Manter esses músculos “sempre prontos e em condições de”, com o intuito de mantê-los ativos, ajudam a pessoa a reduzir as chances de travar a coluna.
Segunda dica é conheça seu corpo e explore ao máximo da sua biomecânica, principalmente quando for levantar cargas pesadas.
Em nossa clínica essas duas dicas funcionam quase que como um mantra para os nossos pacientes.
Saber como usar corretamente o corpo durante os esforços já é um grande passo para não sobrecarregar a coluna.
“O Retorno ao Céu de Brigadeiro”
Volta a Calmaria
Em resumo, após dois dias do início do travamento da coluna, eu já me encontrava trabalhando novamente. Embora, com algumas limitações é claro. Mas funcional!
A dor de nível 10 de intensidade no primeiro dia, reduziu para 4 no terceiro dia, e ficou em nível 2 por mais umas 4 semanas, até desaparecer por completo.
Aliás, um dos sinais de que sua coluna está se recuperando bem é a redução gradual da dor e a recuperação da funcionalidade.
Você não leva mais as facadas nas costas, e se sente mais livre para mover-se e fazer algumas atividades.
O que eu fiz para melhorar tão rápido? Qual foi o segredo?
Para não dizer que não fiz nada, eu usei bolsas de água quente. E só, nada mais! Nem medicamentos, fisioterapia, ou qualquer outra abordagem.
No entanto, eu queria testar a ciência e ver se realmente aquilo que estava escrito, publicado e que eu prescrevia para os meus pacientes estava certo, e funcionava.
E a ciência estava certa. Como consegui me autoavaliar e ver que não havia nada a mais do que o espasmo doloroso na coluna, apenas a paciência foi necessária.
Para mim foi uma “ótima” experiencia. Pois, me colocar no lugar dos pacientes serviu para entender melhor seus problemas, e como ajudá-los nesses casos.
É claro que nem sempre os casos são “simples”, e a busca por um profissional não deve ser descartada.
Curiosidades: A Frase Céu de Brigadeiro, é uma frase utilizada por pilotos de avião para indicar que o céu está limpo, sem nuvens, ausência de turbulências, ou seja, as condições mais favoráveis a um voo calmo e tranquilo.
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Referencias:

Artigo escrito por:
Dr.Douglas Santos
Fisioterapeuta
Me encantó .,, yo solo sé que sos un genio y que desde mi visita a tu consultorio todos mis problemas de rodilla han pasado!
Ahora vivo con un CEu de Brigadeiro!
Gracias Sra.Lourdes! Que bueno! Fico mui contente com su mejora, muy amable:)!!